Tarde Demais
Ontem a noite aparecia em pano de fundo (as estrelas, a lua, uma garrafa de cerveja no chão, a estrada ainda húmida). Eu estava na varanda, a saborear a brisa fresca que corria e a cidade passeava a meus pés, vivia, e eu, tenho de confessar, tinha um certo gosto em ver a cidade viver.
Até aqui, nada podia ser mais banal: eu, depois do jantar, esperando na varanda ser bafejado pelo perfume romântico de uma cidade nocturna. Mas, ontem, ontem deu-se um caso curioso. Reparei que não estava só. Reparei, e senti um equílibrio estranho em todo o mundo, em todas as vidas, em todas as mortes, em todas as palavras sem sentido, em todos os paradoxos insolúveis que são as pessoas que (reparei ontem) vivem ali em baixo, na cidade, e a fazem viver.
Subitamente, aquela noite e aquela varanda pareceram-me insignificantes; subitamente, senti o desejo egocêntrico de ser também mais um, e não apenas eu. Fiquei abandonado à cidade e nela confiei para me guiar. Porque talvez, afinal, em todas as luzes que se acendem, em todas as almas que vivem, haja ainda uma em que restem as palavras que quase viram o seu sentido exterminado pela vontade dos homens que ainda não repararam que não estão sós.
Estava tão enleado com os meus pensamentos que nem senti o céu rebentar por cima de mim, nem senti a roupa molhada colar-se ao corpo, nem senti a chuva acelerar, nem senti o frio enregelar-me os ossos, nem senti a fome, nem senti a sede, nem senti o esquecimento. Nem senti sequer o meu corpo cair para trás e a minha cabeça bater na pedra branca da calçada, e o sangue escorrer, e a minha mente enlouquecer. E, finalmente, o sol raiou.
A manhã veio aquecer-me o corpo, e notei que estava dorido, e cansado, e morto. E que a minha cara estava molhada não de chuva mas de lágrimas. Tentei levantar-me, mas a dor levou a melhor. Tentei olhar, mas perdi contra as minhas pesadas pálpebras. Os meus gritos de socorro sufocavam na minha garganta arranhada. Derrotado, deixei o sol da manhã lavar de mim a minha vida e a minha esperança.
– Não estás só...
Vi tocarem o meu corpo, como se eu me fosse estranho, uma mão e um olhar desconhecidos. E ouvi palavras que já não ouvia há tanto tempo, que já nem sabia como soavam. E aquele momento era tudo – tudo! – o que eu queria sentir.
Tarde demais.
Até aqui, nada podia ser mais banal: eu, depois do jantar, esperando na varanda ser bafejado pelo perfume romântico de uma cidade nocturna. Mas, ontem, ontem deu-se um caso curioso. Reparei que não estava só. Reparei, e senti um equílibrio estranho em todo o mundo, em todas as vidas, em todas as mortes, em todas as palavras sem sentido, em todos os paradoxos insolúveis que são as pessoas que (reparei ontem) vivem ali em baixo, na cidade, e a fazem viver.
Subitamente, aquela noite e aquela varanda pareceram-me insignificantes; subitamente, senti o desejo egocêntrico de ser também mais um, e não apenas eu. Fiquei abandonado à cidade e nela confiei para me guiar. Porque talvez, afinal, em todas as luzes que se acendem, em todas as almas que vivem, haja ainda uma em que restem as palavras que quase viram o seu sentido exterminado pela vontade dos homens que ainda não repararam que não estão sós.
Estava tão enleado com os meus pensamentos que nem senti o céu rebentar por cima de mim, nem senti a roupa molhada colar-se ao corpo, nem senti a chuva acelerar, nem senti o frio enregelar-me os ossos, nem senti a fome, nem senti a sede, nem senti o esquecimento. Nem senti sequer o meu corpo cair para trás e a minha cabeça bater na pedra branca da calçada, e o sangue escorrer, e a minha mente enlouquecer. E, finalmente, o sol raiou.
A manhã veio aquecer-me o corpo, e notei que estava dorido, e cansado, e morto. E que a minha cara estava molhada não de chuva mas de lágrimas. Tentei levantar-me, mas a dor levou a melhor. Tentei olhar, mas perdi contra as minhas pesadas pálpebras. Os meus gritos de socorro sufocavam na minha garganta arranhada. Derrotado, deixei o sol da manhã lavar de mim a minha vida e a minha esperança.
– Não estás só...
Vi tocarem o meu corpo, como se eu me fosse estranho, uma mão e um olhar desconhecidos. E ouvi palavras que já não ouvia há tanto tempo, que já nem sabia como soavam. E aquele momento era tudo – tudo! – o que eu queria sentir.
Tarde demais.
2 palavras urbanas:
não há nada para comentar
simplesmente... ...lindo.
parabéns
Posting As: Anonymous
Por: Anónimo, Ã s 1:39 da tarde
no coment..
it´s just beautiful!
Por: Anónimo, Ã s 1:40 da tarde
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