terça-feira, março 29

Acordou.

Acordou. A primeira coisa que viu foi o tecto branco. Depois olhou para o lado, para a mesa de cabeceira, tentando focar as imagens que lhe apareciam com uma forma indistinta. Olhou para o outro lado e viu a cama, larga, os lençóis brancos com um vazio tão vazio que se sabia que aquele lugar pertencia a alguém que não lá estava.

Não se lembrava de nada da noite anterior; nem da noite anterior nem de qualquer outra noite, nem de qualquer outro dia. Apenas sentia a seu lado um nada tremendo, um vácuo, um abismo de lençóis brancos, que afagava com a mão, como que em busca do que lá não estava. Sentia no ar um doce perfume de rosas, uma fragrância quase melódica, quase música por si própria.

Não tinha dúvidas: ele amara. Ainda ontem ele amara, e hoje não sabia nem quem, nem como. Ele próprio já não se sabia: toda a sua vida passada caíra no esquecimento do vazio. Lembrava apenas as Leis do Mundo e da Vida.

Preparava-se para se sentir triste, e triste deixar-se deitado, mergulhado em tempos de felicidade de que não tinha recordação. Mas, depois, súbitamente apaziguado pela certeza quente de ter amado e de ter sido amado, descobriu-se ainda feliz por sentir ainda o amor de ter amado um dia.

2 palavras urbanas:

  • "Não fiques triste por o teres perdido, fica antes contente por o teres tido", disseram-me um dia. na altura não percebi, mas agora percebo.
    "é difícil", dizem uns; "muito para a minha camioneta" dizem outros. "possível!": porque não pensar assim?

    keep going...
    kiss,
    anonymous

    Por: Anonymous Anónimo, às 4:19 da tarde  

  • ainda bem que se sentiu apaziguado no final... nem todos amaram um dia.

    bem escrito:)

    beijito

    Por: Blogger isa xana, às 4:39 da tarde  

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