sábado, outubro 30

Liberdade!

Dou por mim, por vezes a pensar como se não fosse livre quanto baste. Agrada-me pensar que neste presente que corre e neste país em que vivo eu sou, realmente, livre o suficiente. Porque a liberdade é uma coisa pessoal e unívoca - cada um tem uma e só uma, que é sua e só sua. Claro, estou preso ao chão, preso aos olhares, preso aos desamores, preso aos ódios, preso às invejas, mas ainda assim, sinto-me como se fosse afinal, realmente livre. Quase me sei livre, sei totalmente que não o sou.

Mas quando, quase que pela ciência do pensamento, me sinto livre, é como se o fosse de facto. Assim que cessa este exercício do pensamento, dou-me finalmente como livre para pensar na liberdade dos outros. Ela não me pertence nem tão pouco me diz respeito, mas como pessoa suficientemente livre que me penso, tenho a liberdade de pensar a liberdade dos outros. Ela não me diz respeito porque não beneficio dela, e porque iniciando uma saga solitária para a aumentar acabarei por me aperceber que, sozinho, pouco a posso mudar.

Mas se eu tenho a liberdade de me pensar livre, porque não hão-de os outros de ter tanta liberdade como eu de se julgarem livres? Não é uma questão de nos sujeitarmos às ordens ou ovirmos as ordens dos "outros" que extingue a nossa liberdade. É o facto de fazermos das ordens e opiniões dos "outros" o padrão de comportamento da nossa vida que nos estrangula os movimentos. Deixarmo-nos obcecar, hipnotizar, deixar o nosso comportamento ser escravizado pelas palavras alheias, isso sim, é o que nos limita as opções. Sem escolhas é tudo sempre mais simples. Talvez seja por isso que as pessoas se deixam dominar, invadir por palavras.