segunda-feira, outubro 18

Não há tempo

Às vezes sentimo-nos perdidos nesta cidade, é uma cidade tão grande mas com tão pouco espaço, parece, porque às vezes sentimo-nos perdidos nela, e não é perdidos de não saber o caminho mas de não ver o caminho, porque estamos perdidos na essência da cidade, na sua crescente entropia, porque estamos perdidos de loucura, estamos perdidos de nervos, porque queremos parar e não podemos, porque entramos no metro, no autocarro, no carro, trabalhamos, estudamos, trabalhamos e depois metemo-nos no metro, no autocarro, no carro, chegamos a casa e trabalhamos, estudamos, e estamos perdidos, estamos perdidos, perdemos a noção de tempo, perdemos a noção de espaço, perdemo-nos na essência da cidade, e não apreciamos a textura do papel, nem a beleza do conteúdo, não apreciamos a beleza das coisas, porque não há tempo, nem sequer a sua importância, porque não há tempo, apreendemos e seguimos em frente, porque para nada mais há tempo e estamos perdidos na essência da cidade, nas suas pressas, nos seus nervos, no seu stress, porque estamos perdidos dentro de nós próprios e só vemos pontos finais no fim do texto, porque não há tempo e quando vemos esses pontos finais nem temos tempo de derramar uma lágrima por tudo o que não fizemos por falta de tempo.