quarta-feira, dezembro 29

Imagens na retina

A retina fixa as imagens a uma velocidade esmagadora, uma realidade inimaginável, tão íncrivel, tão demolidora, como só a realidade o é, como nenhuma mente humana sã pode conceber. No chão de madeira juntam-se centenas de corpos, o sangue dos feridos junta-se às lágrimas daqueles que desesperam, daqueles que ainda não acreditam, e que aos poucos vão aceitando o que inevitavelmente terão de aceitar. No meio do caos, envoltas pelo cheiro pútrido dos cadáveres à sua volta, pessoas procuram nos rostos desfigurados reconhecer traços de familiares perdidos, talvez com uma esperança de não encontrarem, talvez com esperança de esperança.

A retina fixa as imagens a uma velocidade esmagadora, eu, aqui, a minha retina, pela televisão, os jornais, pela rádio, sentindo com estupefacção e impotência a dor que não consigo imaginar do outro lado do mundo. Sem água, sem luz, no meio das paisagens devastadas, o desespero humano conhece novos limites. Nestes momentos, em que nos apoiamos mutuamente, quase que descobrimos em nós um ser racional, quase nos compreendemos. Os mortos são contados e recontados, e dia a dia vamos perdendo as ilusões, vamos cancelando as viagens para o paraíso ídilico em que tanto tinhamos sonhado ir passar férias, vamos temendo mais e mais mortes; e nunca, como agora, se afigurou a morte como uma coisa tão arrasadora e prematura.

2 palavras urbanas:

  • Talvez tenhas razão, as imagens não servem grandemente os interesses humanitários; oh! não posso fazer muito por ajudar, aqui sentado no sofá, absorvendo imagens, mas tenho a certeza de que muitos, mobilizados pelas imagens ajudam à sua maneira os povos esmagados: ou estão lá, ajudando, ou estão cá, enviando ajuda, ou contribuem com dinheiro ou com objectos e ainda há os que rezam, e ainda há os que pensam, e ainda há os que falam. Se pouco se pode fazer, fechar os olhos e não ver é fazer nada, que é menos que pouco, portanto, o melhor é ver, ouvir, ler, mas ainda mais importante, agir.

    Por: Blogger Unknown, às 11:33 da manhã  

  • pelo grande mistério para o qual vivemos, lutemos pela vida, esse grande dom. Lutemos pela nossa e pela dos outros. Lutemos. Ajamos.

    anonymous

    Por: Anonymous Anónimo, às 5:38 da tarde  

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