Entre muros
São sete da manhã, já a seguir as notícias das sete com. Olhos preguiçosos – os meus? – olham o penoso despertar do mundo, um acordar taciturno e obscuro. Mas que razões tenho eu, temos nós, para nos deixarmos melancolicamente abandonados a sentimentos que caminham marginais pela vida, sombrios? Nós estamos deste lado do muro. Que sabemos nós? Que podemos saber. Os que constroem os muros sabem que o esquecimento não cura nenhum mal; apenas o esquece. Há sempre os que gritam. Mas enrouquecem antes que os que ouvem deixem de se fingir surdos.
Heródes, o rei brutal, odiado por quase todos (ao que reza a história), decidiu criar um templo monumental que servisse as necessidades de oração do povo judaico. A sua morte chegou antes da conclusão do templo. Então, em 70 d.C. o imperador romano Tito, com o objectivo de controlar a rebeldia dos judeus face ao seu poder intrasingente, decidiu-se a destruir brutalmente o templo do brutal rei; e como que deixando o aviso, poupou um pequeno pedaço da muralha exterior. Esse pedaço de templo foi assim convertido num simples muro – o das lamentações –, passou a ser o local de adoração dos judeus nessa Jerusalém que é o símbolo do mundo: naquela cidade convergem as três maiores religiões que guardam entre si eternos rancores, sob a égide de um único Deus, Deus em que todos acreditam, Aquele que prega mensagens de paz e amor entre os homens. Que hipocrisia pretextar assim ódios, mortes, guerras. Que hipocrisia, muros!
Mesmo a Europa, onde jaz o berço da democracia, onde se pronunciaram pela primeira vez valores de liberdade, onde se clamou civilização, mesmo a anciã Europa atravessou periodos sombrios, quer na escuridão dos bunkers, quer depois, quando se dividiu a cidade de Berlim por um muro, quando Kruschov decidiu demarcar bem de que lado estava na política. Mas esse era um muro maior que si próprio. O muro extrapolou-se para uma perspectiva mundial, e dividiu duas facções com muitas bocas mas sem quaisquer ouvidos. Os muros têm ouvidos mas não têm bocas. Porém esse facto em nada compensa tudo o resto, porque as bocas sem ouvidos de nada servem, e os ouvidos sem bocas são desnecessários. Separados por escassos metros, as bocas de uns não chegavam aos ouvidos de outros – e eram os olhos que choravam. Em 1989 finalmente há a importação de bocas e ouvidos e o muro deixa de ecoar as vozes de esperança, inúteis.
Quem, utopicamente, imaginou que todos aí entenderiam que os muros não servem de nada? Quem? São oito horas da manhã, já a seguir as notícias das oito com. Israel decidiu-se a aprisionar a Palestina entre os seus muros de cimento, com vedações electrificadas, com lugar à vigilância permanente nos dois lados da fronteira. É o novo muro da vergonha entre Israel e Faixa de Gaza. Na rádio, hoje, às oito, transmissão em directo de todas as hipocrisias que podem ser escritas no muro, enquanto duas crianças jogam fazem do muro baliza para um jogo de bola.
Heródes, o rei brutal, odiado por quase todos (ao que reza a história), decidiu criar um templo monumental que servisse as necessidades de oração do povo judaico. A sua morte chegou antes da conclusão do templo. Então, em 70 d.C. o imperador romano Tito, com o objectivo de controlar a rebeldia dos judeus face ao seu poder intrasingente, decidiu-se a destruir brutalmente o templo do brutal rei; e como que deixando o aviso, poupou um pequeno pedaço da muralha exterior. Esse pedaço de templo foi assim convertido num simples muro – o das lamentações –, passou a ser o local de adoração dos judeus nessa Jerusalém que é o símbolo do mundo: naquela cidade convergem as três maiores religiões que guardam entre si eternos rancores, sob a égide de um único Deus, Deus em que todos acreditam, Aquele que prega mensagens de paz e amor entre os homens. Que hipocrisia pretextar assim ódios, mortes, guerras. Que hipocrisia, muros!
Mesmo a Europa, onde jaz o berço da democracia, onde se pronunciaram pela primeira vez valores de liberdade, onde se clamou civilização, mesmo a anciã Europa atravessou periodos sombrios, quer na escuridão dos bunkers, quer depois, quando se dividiu a cidade de Berlim por um muro, quando Kruschov decidiu demarcar bem de que lado estava na política. Mas esse era um muro maior que si próprio. O muro extrapolou-se para uma perspectiva mundial, e dividiu duas facções com muitas bocas mas sem quaisquer ouvidos. Os muros têm ouvidos mas não têm bocas. Porém esse facto em nada compensa tudo o resto, porque as bocas sem ouvidos de nada servem, e os ouvidos sem bocas são desnecessários. Separados por escassos metros, as bocas de uns não chegavam aos ouvidos de outros – e eram os olhos que choravam. Em 1989 finalmente há a importação de bocas e ouvidos e o muro deixa de ecoar as vozes de esperança, inúteis.
Quem, utopicamente, imaginou que todos aí entenderiam que os muros não servem de nada? Quem? São oito horas da manhã, já a seguir as notícias das oito com. Israel decidiu-se a aprisionar a Palestina entre os seus muros de cimento, com vedações electrificadas, com lugar à vigilância permanente nos dois lados da fronteira. É o novo muro da vergonha entre Israel e Faixa de Gaza. Na rádio, hoje, às oito, transmissão em directo de todas as hipocrisias que podem ser escritas no muro, enquanto duas crianças jogam fazem do muro baliza para um jogo de bola.
2 palavras urbanas:
Nestes textos tens partes bem conseguidas. Mas no meio o texto torna-se confuso e díficil de seguir.
Por: Anónimo, Ã s 4:19 da tarde
sem plavras.
mas, afinal, "como posso dar eu opinião, se, na verdade, mais correcto não poderia estar?"
é verdade, está certo, é um bom assunto para "discutir", mas tudo isso, suponho que já sabias.
adoro essa tua capacidade para fazer tudo de uma maneira esquisita, diferente, destacada, talvez...especial. continua assim, que nós (pelo menos eu)gostamos..
desculpa,
anonymous
Por: Anónimo, Ã s 5:51 da tarde
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