Norge
Ele pensava que já tinha visto tudo ali, e que ali não havia mais nada a ver. Pensava assim há já algum tempo, quando decorou todas as pedras da calçada, quando começou a desenhar de cabeça a trajectória curvilínea da estrada, quando sabia o número de lugares de estacionamento e memorizou as matrículas de todos os automóveis que customavam passar por ali; conhecia as cores do céu no príncipio do dia, no fim da tarde, nas noites de lua cheia e de lua nova. Assim, aquele local, de que era prisioneiro por estranhos caprichos de um certo narrador, apresentava-se-lhe como o mais enfastiante dos lugares, por ser facilmente memorizável.
Realmente conhecia tudo naquela rua; sabia até retratar perfeitamente as feições de um homem velho que por vezes passava as suas tardes sentado num banco verde, de madeira. Conhecia até a sua voz, sem nunca ter conversado com ela. Naquele dia decidiu-se, e aproximou-se do idoso, e interpelou-o, e disse-lhe:
- Não há nada de novo aqui.
O velho sorriu, um sorriso triste e gasto, mas aberto e franco, respondeu-lhe:
- Sobe para aqui para cima do banco. Estás a ver, talvez, daí, um ninho, lá ao fundo?
Não teve outra hipótese senão admitir vê-lo e desconhecê-lo. E o velho tornou:
- Tu nem a ti te conheces quanto mais esta rua!
Então, pela primeira vez, pensei de mim para comim que talvez não fosse personagem mas escritor, e que talvez seja eu que me prendo a esta rua limitada pelo meu olhar limitado. Olhei a rua de novo e, súbitamente, tudo me era estranho e diferente...
Realmente conhecia tudo naquela rua; sabia até retratar perfeitamente as feições de um homem velho que por vezes passava as suas tardes sentado num banco verde, de madeira. Conhecia até a sua voz, sem nunca ter conversado com ela. Naquele dia decidiu-se, e aproximou-se do idoso, e interpelou-o, e disse-lhe:
- Não há nada de novo aqui.
O velho sorriu, um sorriso triste e gasto, mas aberto e franco, respondeu-lhe:
- Sobe para aqui para cima do banco. Estás a ver, talvez, daí, um ninho, lá ao fundo?
Não teve outra hipótese senão admitir vê-lo e desconhecê-lo. E o velho tornou:
- Tu nem a ti te conheces quanto mais esta rua!
Então, pela primeira vez, pensei de mim para comim que talvez não fosse personagem mas escritor, e que talvez seja eu que me prendo a esta rua limitada pelo meu olhar limitado. Olhei a rua de novo e, súbitamente, tudo me era estranho e diferente...