Acordou.
Não se lembrava de nada da noite anterior; nem da noite anterior nem de qualquer outra noite, nem de qualquer outro dia. Apenas sentia a seu lado um nada tremendo, um vácuo, um abismo de lençóis brancos, que afagava com a mão, como que em busca do que lá não estava. Sentia no ar um doce perfume de rosas, uma fragrância quase melódica, quase música por si própria.
Não tinha dúvidas: ele amara. Ainda ontem ele amara, e hoje não sabia nem quem, nem como. Ele próprio já não se sabia: toda a sua vida passada caíra no esquecimento do vazio. Lembrava apenas as Leis do Mundo e da Vida.
Preparava-se para se sentir triste, e triste deixar-se deitado, mergulhado em tempos de felicidade de que não tinha recordação. Mas, depois, súbitamente apaziguado pela certeza quente de ter amado e de ter sido amado, descobriu-se ainda feliz por sentir ainda o amor de ter amado um dia.