Sal, pimenta, alho, limão, salsa e oregãos
Por esta altura do ano, sob a luz, cor e som do fogo de artíficio, escutando com atenção e deleite uma música calma, dançando, cantando, festejando, ouvindo ritmos mais acelerados, com Deus, em paz e pela paz, com os amigos, com a família, com quem se desconhece, mesmo só, com um copo de champagne na mão, isolado, com a cara recortada contra o cheio luar do céu, enfim – todos se alegram pelo ano findo e pelo ano vindouro. Depois é a contagem decrescente, os olhos fitos no relógio, os ouvidos atentando na voz, enfim – chega-se ao momento crucial, abre-se o champagne, comem-se as doze passas, e tomam-se aquelas resoluções que (como muitas vezes o sabemos de antemão), não vamos seguir no ano que começa ali. Não é assim para todos, nada do que chega é para todos neste mundo. Mas é assim, muitas vezes, pelo menos para mim, que estou sempre convicto de que no ano seguinte porei em prática os meus projectos, as minhas metas, as minhas ideias, mas nunca tal acontece. Por isso este ano, decidi colocar doze perguntas na mesa, no lugar das tradicionais doze passas:
Janeiro: Para quê perguntar?
Fevereiro: Para quê responder?
Março: O que é importante?
Abril: O que é possível?
Maio: O que é feito?
Junho: O que é belo?
Julho: O que é errado?
Agosto: O que é mau?
Setembro: Porquê a existência?
Outubro: O que é a existência?
Novembro: O que é a verdade?
Dezembro, e esta é, realmente a pergunta essencial: Porque não consegui eu responder a nenhuma destas perguntas?
A tudo e a todos um bom ano novo – a velha frase está gasta e corroída pela insensatez do uso, e se alguma vez teve sabor e aroma é agora ínsipida, e por isso mesmo peço ao leitor que a salgue e tempere a seu gosto, para que seja realmente um ano suculento e que apeteça ao paladar.